Gente Grande
21:29
Quando criança, no condomínio onde morava, eu e meus amigos chamávamos os mais velhos - adolescentes e pré-adolescentes - de 'os grandes', afinal, eles eram maiores e mais velhos.
Tínhamos o maior respeito pelos grandes, nem olhávamos para eles, só escondido, não falávamos com eles e se algum deles fosse irmão de um de nós fazíamos um batalhão de perguntas sobre como era a vida de um grande.
Queríamos ser grandes logo, e então chegou mais rápido do que imaginávamos. Éramos grandes, não brincávamos mais e esnobávamos os 'pequenos'. Éramos os donos do mundo, sabíamos de tudo, verdadeiros donos da verdade cheios de si.
Mas continuávamos querendo ser algo mais, queríamos ser adulto, isso é que era ser 'gente grande'.
Com o passar do tempo vieram as responsabilidades: vestibular, estágio, administrar o próprio dinheiro, etc. Porém não tínhamos o essencial de um adulto: independência. Precisávamos dar satisfações aos nossos pais, quando já éramos grandes o suficiente para nos cuidarmos sozinhos.
E então, quando você se dá por conta, está formado, morando sozinho, com seu próprio carro e tendo que se sustentar sozinho. Seus amigos estão se casando, alguns já tem até filhos. As pessoas finalmente te consideram um adulto.
Grande coisa.
Você não tem resposta para tudo, é cheio de medos e inseguranças, já tem certa experiência profissional, mas não certeza plena da sua carreira, os 30 estão se aproximando e você continua fazendo um monte de besteira.
Não era assim que parecia quando éramos pequenos. Os adultos pareciam sempre saber o que fazer, como resolver os problemas e nunca era motivo para pânico. Seus pais sempre sabiam como curar um machucado, como prover o sustento da casa, como deixar tudo bem.
Penso que só pode ser porque eram adultos a mais tempo. Já estavam acostumados com esses sentimentos diversos e sabiam que no final tudo se resolvia. Ainda me sinto estranha quando minha mãe me pede um conselho, é quase como ganhar uma estrelinha dourada: estou fazendo um bom trabalho, então posso participar de uma daquelas conversas de adulto.
No final das contas, ser adulto tem seus perrengues, mas até que é bem legal. Amadurecer faz parte, ter responsabilidade e compromisso, saber falar sério. Mas mais importante que tudo é continuar sabendo brincar, rir, relaxar, manter aquela essência de quando pequenos. Encontrar esse equilíbrio deve ser a tal fórmula da felicidade.
E então, após passarmos o tempo todo querendo ser gente grande, quando finalmente o somos, tudo que queremos e ser pequeno.
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