Querido Amigo

08:50


Uma vez me disseram "a pior dor é a dor de amor". Eu, cética como sou com relação a essas coisas de coração partido, imediatamente respondi "acho que chutar a quina com o mindinho dói muito mais, a dor de amor dói apenas uma vez, o mindinho dói sempre".

Tola que fui. Lá estava eu pensando em corações partidos por decepções amorosas, me esqueci que nosso coração se parte por outros amores. Superar a perda de um namorado é fácil! O que eu não aprendi a superar ainda é a perda de um amigo.

Quando perdemos um namorado é porque algo muito ruim acontece e enche a gente de raiva, de forma que nem queremos mais aquele cara, ou então o relacionamento já havia morrido faz tempo e o fim é apenas uma questão de percepção.

Amigo não. Porque amigo não é costume. Amigo não é paixão. Amigo não é tesão. Amigo é amor. Amigo é compreensão. Amigo é fraternidade. É cuidar um do outro, é não passar a mão por cima, é cuidar dos machucados, é conhecer um ao outro com todos os defeitos e amar mesmo assim. Amizade não vai morrendo aos poucos.

Amigo é ligar no meio da madrugada e dizer "to indo aí", é contar segredos. Amigo, no meu caso, é alguém para quem mostrar que temos sentimentos, é a companhia de domingo a noite, é o colo onde choramos baixinho.

E eu? Eu procurei não medir esforços para estar perto, não medi forças para apoiar, não fechei os olhos para os defeitos, mas defendi com unhas e dentes. Eu perdoei uma, duas, três... nem sei quantas vezes! Não me importei em contar. Eu perdoei.

Eu comemorei vitórias, até as mais pequenas. E peguei junto na luta em busca dos sonhos. E, quando não deu certo, eu não pude consertar, mas busquei um sorriso! Porque teu sorriso iluminava meus dias. Por quê? Porque eras meu amigo.

Nunca fui a pessoa mais cheia de amigos no mundo, acho aquela história de "eu quero ter um milhão de amigos" um exagero, o cúmulo da carência. Quem precisa de tanta gente assim? Mas não há quem viva sozinho. Meus amigos escolhi com cuidado.

E então eu errei. Sim, eu errei. Você não pôde perdoar, você não quis perdoar. Não dessa vez. Em mim dói, em você já não dói mais. Mas opto por sentir, seja bom ou ruim. Isso significa, para mim, ser de verdade, viver de verdade. Afinal, a vida não é feita apenas de momentos doces, é preciso aprender a lidar com o amargo.

Em mim dói no estômago, bem na boca do estômago, chega a enjoar. Uma dor aguda, que aparece de tempos em tempos só pra me lembrar: você perdeu. Mas eu aprendi com os anos a sorrir por fora, a manter a cara de paisagem. Sou responsável pelos meus atos, ninguém precisa escutar meus lamentos, a culpa é minha e eu que tenho que dar um jeito. Então não, isso não é um lamento.

A primeira sensação do dia? "Está faltando algo", é o que penso, ainda atordoada pelo sono e então... "ah, lembrei".

Mas vai passar. Vou aprender a lidar. Vou encontrar uma forma de me perdoar. Vou lembrar de tudo de bom que eu fiz e concluir que não sou um monstro. Vou guardar todas as boas lembranças. Vou guardar esse amor com carinho.

E o resto deixo nas mãos do tempo, aprendi a ser paciente, a deixar a paz tomar conta das coisas. Deixo que que o tempo passe, que ele decida, ele sempre sabe o que é melhor. 

E, quem sabe um dia, meu querido amigo...

Com amor,

Naty

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