Expulsa do mundo

23:22

E então você não se sente bem-vinda em lugar algum. Ok, você até agrada algumas pessoas, conhecidas, em um primeiro momento, mas elas nem lembrarão de você no dia seguinte. Para outras você sente como se fosse um fardo, daqueles bem pesados, já não consegue nem impor mais a sua presença por vergonha de a pessoa ter que te aturar sabe? Tipo, você se esforça, mas não adianta, você veio com defeito.
 
Não sejamos extremistas, sua mãe te ama, você não é um desgraçado completo, o instinto maternal ainda está a seu favor, mas até ela tem vida própria e você não. Você não é o tipo de pessoa que é esperada nos lugares, aquela que é lembrada nas rodas de conversa. Na verdade, algumas até gostariam de te ver pelas costas. Você é um aborto social. Todo mundo tem uma porção de amigos ou um par, pessoas que lhe façam companhia no tempo livre, parceiros de festas, cinemas e atividades sociais em geral. Você não. Você é aquela que tem os amigos dos outros. Que passa o sábado a noite em casa por falta de opção. Que vai sozinha ao cinema.
 
Você simplesmente atrapalha até quando tenta ajudar. Não faz nenhuma grande contribuição para o andamento da vida na Terra. Não tem nada de especial. É sozinha. Coleciona relacionamentos fracassados, onde nem o chinelo mais velho encaixa no seu pé torto. Ninguém te aguenta por muito tempo, sua companhia não é requisitada. Sua família o faz por não ter opção, tipo, é a regra, família é família. Mas todo mundo segue o baile tranquilamente sem você.
 
O único problema é que você gosta das pessoas, só não sabe como ser normal. Aquele tipo de pessoa que os outros também gostam. Gostaria muito de ser uma companhia agradável, mas simplesmente não está na sua genética. Você só não consegue deixar de se importar. Sempre dói, às vezes mais, Às vezes menos. Mas dói. E então você aceita que terá de se acostumar a ser sozinha. Faça um favor ao mundo e suma. Mas é difícil. Sempre terão momentos bem ruins. O mundo expulsou você, mas você ficou sem opções de para onde se retirar.
 
E então se perde... em meio a pensamentos, angústia, solidão, ansiedade, insegurança. Não há opção. Você não é bem-vinda, mas não tem como evitar a interação social. Tenta restringir, mas tem suas necessidades. Você roda, roda, roda e não sai do lugar. Ou melhor, é jogada de um lugar para outro. Metralhada de todos os lados e sua cabeça simplesmente parece que vai explodir.
 
E você torce para que exploda. Para que algo realmente grande aconteça e simplesmente jogue tudo pro ar. Espera ansiosamente para que o torpor venha. Ah o torpor! Você não quer sentir mais, não quer pensar mais. Tudo o que você quer é simplesmente entrar em um estado de nada e ser apenas um barco à deriva pelo mar da vida.

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